Sou Márcio Câmara, taxista há 20 anos em São Paulo. Filhos de pais portugueses da Ilha da Madeira. Tive um berço pesado. Meu pai bebia muito, brigava com a minha mãe. Ela já, antes de engravidar, quando ela engravidou de mim, ela tomou remédio para aborto e não deu certo. Eu tenho mais três irmãos. E aí já vim sendo rejeitado. criado com uma indiferença entre os irmãos. E na infância tive muito trauma do meu pai beber muito, brigar com ela, né? E a gente vem de uma descendência de depressão com suicídio por parte da mãe e câncer por parte de pai, né? Fora isso, tem essa genética da Ilha da Madeira lá, eles são. E a infância foi boa até uma certa fase, Quando meus irmãos se separaram, foram criados por tios, por causa do meu pai, a bebedeira dele, e eu fiquei em casa no tiroteio. E na infância eu tinha que vender sorvete, vendia sonhos na rua. Uma vez meu tênis ficou apertado, minha mãe cortou o bico dele, eu fiquei com vergonha, aí fui vender sorvete pra comprar um tênis novo. Era uma época boa, brincava na rua, passava o carro de doce. Quando o doce estava quebrado, a gente ganhava doce. E todas as brincadeiras de rua, uma periferia muito atrasada, cantagava. E depois veio a adolescência, mudamos de bairro, meu pai veio a falecer com câncer. E aí foi a melhor fase, eu cursei modelo fotográfico no Senac nos anos 80, cursei cabeleireiro. e não terminei meus estudos. Sempre gostei muito de redação, tinha meus diários, eu sempre gostei muito. E eu terminei só o segundo grau básico. E curti muito a adolescência, anos 80, rock, teatros, peças de teatro muito boas, shows, pixava a mura, andava de skate. Curti punk também, dark, ia na galeria do rock, E foi uma fase muito boa. E minha mãe sempre com depressão. E trabalhei de balconista em padaria, office boy. Depois fui motorista e permaneci motorista até os dias de hoje. Sou taxista há 20 anos no Alto da Lapa. Então, depois veio namoro, casamento, construção, fases de viagem, acampamentos. Ela teve dois abortos, depois ela engravidou depois de 11 anos, foi um milagre pela medicina, veio um filho maravilhoso. Enfim, o casamento teve altas e baixas, tive um divórcio conturbado. Depois, para ajudar, veio um câncer maligno. Na Covid eu quase morri, e com tudo isso eu falei, vou fazer o quê? Eu comecei a escrever livros. Hoje eu tenho sete livros editados e estou editando mais dois. São nove livros. Meu carro-chefe é Anjos da Rua, sobrecadeirantes de semáforo. Eu ganho patrocínio e depois o livro é doado para os personagens. Hoje eu tenho sete mil livros doados. Isso melhorou muito a minha autoestima. Frequentei religiões, sei xô noê. Eu tenho um livro LGBT, contos cor-de-rosa. Tenho lições de vida sobre empregada doméstica. Está pelo site da editora Philos. Depois eu deixo o link aqui para vocês. E hoje eu continuo taxista. Sou amigo da minha mulher, mãe do meu filho. Ele está terminando o segundo grau. E o livro deu muita reportagem. Isso melhorou muito. Não queria dinheiro, queria reconhecimento. Fui duas vezes chamado no Senac. para falar sobre o livro Anjos da Rua. São todos deficientes de semáforo, os personagens. E deu muito certo. Então, hoje, graças a Deus, eu estou aí caminhando. Me recuperei do câncer, do Covid, da depressão, mais ou menos, né? E vida que segue. Então, assim, o cara que praticamente nem terminou os estudos, eu acho que está até de bom tamanho, né? E vamos seguindo a vida. É isso aí. Um abraço a todos aí. Marcio Câmara, taxista, moro em São Paulo.